12/08/2012

OS MENSAGEIROS | Discurso Direto


Sob a égide dos 125 anos do nascimento de Fernando Pessoa e com o apoio da Casa Fernando Pessoa, a SevenMuses MusicBooks apresenta em livro e em disco a obra original "Os Mensageiros", Antologia de Fernando Pessoa. Em "Discurso Direto", Samuel Lopes, o autor e editor ddeste projeto, viaja connosco pela obra poética de Fernando Pessoa.

Portugal Rebelde - A edição do Livro/CD “Os Mensageiros – Antologia de Fernando Pessoa”, foi abraçar a multiplicidade do poeta numa viagem entre a intimidade e a universalidade?

Samuel Lopes - A ideia foi tentar espelhar essas facetas do poeta que estão expressas na própria antologia poética. O disco em si pretende igualmente fazer essa viagem, contendo momentos onde se sente a intimidade da palavra ora cantada ou declamada por vezes com um leve acompanhamento de piano, contendo também canções mais abertas com arranjos mais elaborados num contexto mais popular.

PR - O CD, que acompanha esta obra, presumo que tenha constituído um desafio apaixonante. Musicar um poema é acentuar-lhe a emoção, reforçando-lhe o ritmo, como dizia Fernando Pessoa?

SL - Sem dúvida. Para além do desafio foi também a responsabilidade de musicar a obra poética de Pessoa. Foi precisamente essa a premissa desta obra, enriquecer a poesia através da música dando essa dimensão e expressão aos poemas. Apesar da poesia ser subjectiva, acredito que se tenha conseguido uma coerência transversal.

PR - Para tornar esta obra sonora tão transversal quanto possível, foram convidados artistas da música popular portuguesa, do fado, da música popular brasileira e também do jazz. Quer falar-nos um pouco destas escolhas?

SL - O ponto de partida foi a antologia poética selecionada por Luís Filipe Sarmento, depois convidámos vários compositores que livremente foram escolhendo os poemas para musicar, e por fim foram surgindo os convidados à medida que as canções foram nascendo. Houve também alguns convites directos a autores e interpretes como foi o caso dos artistas brasileiros Fernanda Porto e Oswaldo Montenegro.

PR - Para além das nove canções, o CD conta ainda com cinco poemas musicados na voz de Rui de Carvalho e Joaquim de Almeida entre outros. A grande novidade na declamação é a voz de Lia Lobato Lopes, uma menina de 11 anos. Este é também um “sinal” para o público mais jovem?

SL - Este é um episódio familiar interessante, havia ainda espaço para um apontamento final para fechar o disco, ao qual decidi chamar Antologia que é uma compilação de algumas grandes reflexões de Pessoa que era suposto ser eu a gravar. Enquanto estava em estúdio a ensaiar a voz, a menina Lia Lobato Lopes minha filha que curiosamente também toca guitarra, pediu para experimentar declamar o texto ao microfone, e ao ouvi-la quer eu quer o engenheiro João Lopes ficámos emocionadíssimos e percebemos que as palavras tinham ganho uma dimensão imensurável. Se fosse um adulto a fazer esta declamação talvez este tema passasse despercebido, o facto de ser uma criança com a sua inocência a declamar reflexões tão sérias e importantes para a vida de todos nós, acredito que se seja mais uma chamada de atenção para nós adultos e constitui um dos momentos mais altos deste disco.

PR - A edição de “Os Mensageiros” nasceu sob a égide dos 125 anos do nascimento de Fernando Pessoa. Sente, que a obra poética de Pessoa e heterónimos ainda não é tão divulgada como merecia?

SL - Fernando Pessoa é um dos grandes poetas da literatura universal. É apreciado em todo o mundo de forma muito espontânea, amigo vai recomendando a amigo e a sua obra vai-se perpetuando por gerações e geração. Ainda se estão a descobrir muitos textos que escreveu a famosa arca parece uma fonte inesgotável de sabedoria. Quando se trata de um autor desta dimensão, por muito que tenha sido feito muito mais há a fazer. E haverá sempre espaço para este tipo de novas propostas que acrescentam valor à sua obra.

PR - “Não sou nada. Nunca serei nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (Fernando Pessoa) Nesta viagem pelo universo de Fernando Pessoa, que durou quase dois anos, sente que foi uma aposta ganha?

SL - Acima de tudo foi uma viagem muito enriquecedora. Como esta obra visa a intemporalidade é uma obra para se ir descobrindo e como não acredito que existam viagens vãs, termino com esta célebre frase de Fernando Pessoa “Valeu a pena? Tudo vale a pena se alma não é pequena”.

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